Sunday, October 31, 2004



Mais uma tradução caseira, desta vez da minha Plá





Ao descascar a palavra esperança encontrei polpa de maçã

e caroço de pedra.



Ao descascar a palavra amor achei pele de pêssego

e carne de cinza.



Ao descascar a palavra verdade, encheu as minhas mãos

e ao chegar à minha boca não existia





Josefina Plá





Saturday, October 30, 2004



cançoneta para animar sábados chuvosos



SUPERCALIFRAGILISTICEXPIALIDOCIOUS





Um diddle diddle diddle um diddle ay

Um diddle diddle diddle um diddle ay

Supercalifragilisticexpialidocious!

Even though the sound of it

Is something quite atrocious

If you say it loud enough

You'll always sound precocious

Supercalifragilisticexpialidocious!



Um diddle diddle diddle um diddle ay

Um diddle diddle diddle um diddle ay

Because I was afraid to speak

When I was just a lad

My father gave me nose a tweak

And told me I was bad

But then one day I learned a word

That saved me aching nose

The biggest word I ever heard

And this is how it goes:



Oh, supercalifragilisticexpialidocious!

Even though the sound of it

Is something quite atrocious

If you say it loud enough

You'll always sound precocious

Supercalifragilisticexpialidocious!



Um diddle diddle diddle um diddle ay

Um diddle diddle diddle um diddle ay

So when the cat has got your tongue

There's no need for dismay

Just summon up this word

And then you've got a lot to say

But better use it carefully

Or it may change your life

One night I said it to me girl

And now me girl's my wife!



She's supercalifragilisticexpialidocious!

Supercalifragilisticexpialidocious

Supercalifragilisticexpialidocious

Supercalifragilisticexpialidocious









Thursday, October 28, 2004



A cançoneta viciante da noite é





Cigarettes and chocolate milk

These are just a couple of my cravings

Everything it seems I like’s a little bit stronger

A little bit thicker, a little bit harmful for me



If I should buy jellybeans

Have to eat them all in just one sitting

Everything it seems I like’s a little bit sweeter

A little bit fatter, a little bit harmful for me



And then there’s those other things

Which for several reasons we won’t mention

Everything about ’em is a little bit stranger, a little bit harder

A little bit deadly



It’s not very smart

Tends to make one part

So brokenhearted



Sitting here remembering me

Always been a shoe made for the city

Go ahead accuse me of just singing about places

With scrappy boys faces have general run of the town



Playing with prodigal sons

Take a lot of sentimental valiums

Can’t expect the world to be your raggedy andy

While running on empty you little old doll with a frown



You got to keep in the game

Retaining mystique while facing forward

I suggest a reading of lesson in tightropes

Or surfing your high hopes or adios kansas



It’s not very smart

Tends to make one part

So brokenhearted



Still there’s not a show on my back

Holes or a friendly intervention

I’m just a little bit heiress, a little bit irish

A little bit tower of pisa

Whenever I see ya

So please be kind if I’m a mess



Cigarettes and chocolate milk

Cigarettes and chocolate milk





Rufus Wainwright









Wednesday, October 27, 2004

...Ahora es el otoño

El tiempo de las abdicaciones

el tiempo de las nubes fugitivas como banderas en derrota

el tiempo de la alegría vacante creciendo dondequiera

entre un suicidio unánime de hojas

y un emigrar de pájaros correos

hacia antiguas ciudades de noticias inversas



Ahora llega el otoño y el pecho de la tierra

se enfría como lágrima caída

Es otoño y amor amarillea

y el viento se despierta desengañado en las mañanas

Ahora es otoño con sus luces oblicuas

rasgando las arrugas y el surco sin semilla

soslayando como barcos esquivos

las bahías devastadas y exangües de las sienes





Josefina Plá









Tuesday, October 26, 2004

Nunca se sentiram enjaulados na melancolia?





Monday, October 25, 2004


No espelho

No espelho
o olhar desaparece

às vezes desalojado
no meu próprio corpo

às vezes
angustiado
pela angústia
que rola
para lá e para cá como destroços
na rebentação

raspo com um dedo
o vidro
e oiço o mundo gritar.

Pia Tafdrup


Friday, October 22, 2004

fala-me das cores, das margens anoitecidas sem eco

onde o ar é irrespirável e dentro das palavras há paisagens



presa nos cantos da casa a noite desvia-se da ausência

não me falas da noite e eu trago-te o dia



amanheces-me nas cores onde as palavras são despidas de corpo

perdem-se num tempo onde a tua voz é passado

divide-se em mil pedaços onde os pássaros não voam

e o rumor das arvores faz silencio



esqueço-te em palavras ditas



eue








Wednesday, October 20, 2004





DESLUMBRANTE

2046 do Wong Kar Wai

























RESEÑA



Soy de otra parte, otro cuerpo, otro golfo

para que me entiendan

para que no me entiendan demasiado

por atajos y digresiones

escribo.

A mano limpia. A campo traviesa.



Vivo por circunloquios, espirales, pidiendo disculpas, permiso. Demasiado.

Tropiezo, desentono, me repito,

adiciono prótesis, me encorvo,

heteróclita, minuciosa, descuidada

descartando a manotazos, boqueando

con notas a pie de página

inverificables.



Desenraizada como tronco de plátano

a merced de la borrasca, puro cráter, pura fragilidad

sin saber echar raíces pero voy

poniéndome en escena, fuera de foco,

por lente cóncavo o convexo

nunca el del arcoiris nunca el del amor correspondido menos furtivo.



El mínimo denominador común del dolor es universal

y su raíz cuadrada esta nuez, este rubí,

que aún alumbra, soberbio, secreto, aunque airado

la palma de mi mano.





LUISA FUTORANSKY











Friday, October 15, 2004

O tio Tom estava a ver que não chegava a tempo do aniversário, enquanto isso ia cantando



Everything You Can Think



Everything you can think of is true

Before the ocean was blue

We were lost in a flood

Run red with your blood

Nigerian skeleton crew



Everything you can think of is true

The dish ran away with the spoon

Dig deep in your heart for that little red glow

We?re decomposing as we go



Everything you can think of is true

And fishes make wishes on you

We?re fighting our way up dreamland?s spine

Red flamingos and expensive wine



Everything you can think of is true

The baby?s asleep in your shoe

Your teeth are buildings with yellow doors

Your eyes are fish on a creamy shore



Tom Waits









Thursday, October 14, 2004



Parafraseando Manoel de Barros, faz hoje dois anos que ” fabriquei um brinquedo com palavras” e imagens , esta “mad word party” que tem sido uma excelente maneira de continuar os “scrapbooks ” que sempre fiz, e podem não acreditar, mas nunca o fiz para agradar a alguém, na maioria das vezes, são emoções minhas(a chamada blogoterapia) descritas pelas palavras dos outros (que são muito mais certeiras que as minhas)













E posto esta parte séria, recomeço outra vez como comecei, com a Alice do tio Tom



Alice



It's dreamy weather we're on

You waved your crooked wand

Along an icy pond with a frozen moon

A murder of silhouette crows I saw

And the tears on my face

And the skates on the pond

They spell Alice



I disappear in your name

But you must wait for me

Somewhere across the sea

There's a wreck of a ship

Your hair is like meadow grass on the tide

And the raindrops on my window

And the ice in my drink

Baby all I can think of is Alice



Arithmetic arithmetock

Turn the hands back on the clock

How does the ocean rock the boat?

How did the razor find my throat?

The only strings that hold me here

Are tangled up around the pier



And so a secret kiss

Brings madness with the bliss

And I will think of this

When I'm dead in my grave

Set me adrift and I'm lost over there

And I must be insane

To go skating on your name

And by tracing it twice

I fell through the ice

Of Alice



And so a secret kiss

Brings madness with the bliss

And I will think of this

When I'm dead in my grave

Set me adrift and I'm lost over there

And I must be insane

To go skating on your name

And by tracing it twice

I fell through the ice

Of Alice

There's only Alice



Tom Waits







Wednesday, October 13, 2004





A lebre espreita para ver se o amanhã ainda demora







Tuesday, October 12, 2004





Sonhos da Menina



A flor com que a menina sonha

está no sonho?

ou na fronha?



Sonho

risonho:



O vento sozinho

no seu carrinho.



De que tamanho

seria o rebanho?



A vizinha

apanha

a sombrinha

de teia de aranha . . .



Na lua há um ninho

de passarinho.



A lua com que a menina sonha

é o linho do sonho

ou a lua da fronha?



Cecília Meireles





Monday, October 11, 2004



E é este o quarto onde costumo estar nas noites assim; o quarto onde costumo estar nas noites que não são bem assim; o quarto onde costumo estar todas as noites e onde nunca nada jamais acontece a não ser o estrépito do céu caindo à vez pelos telhados.



António Gregório

Uma história de desamor treze vezes







(lebre em modo deslumbrada com este livro )

Sunday, October 10, 2004

A chuva é triste porque nos faz lembrar quando éramos peixes.



RAMON GÓMEZ DE LA SERNA





Friday, October 8, 2004



Cair de gotas



Não sei, olha, terrível como chove. Chove que se farta, densa e tristemente, gotas enormes e duras contra a varanda, que fazem “plaf” e se esborracham como bofetadas uma após outra que chatice. Aparece agora uma gotinha no alto da janela, periclitante contra o céu que a destrói em mil brilhos apagados, cresce e oscila, parece que cai mas não cai, não há meio de cair. Agarra-se com unhas e dentes, não quer cair, e a barriga vai-a aumentando, é agora uma gota que incha majestosa e de repente “zup” ela aí vem, “plaf”, desfeita, nada, uma viscosidade no cimento.

Mas há as que se atiram e suicidam imediatamente, aparecem na goteira e daí se mandam, creio ver a vibração do salto, as pernitas que se soltam e o grito que as embriaga nesse nada de cair e aniquilar-se. Tristes, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus





Julio Cortázar







O Álbum viciante do momento é uma ferida aberta à dor, de alguém que sobreviveu a si mesma



Thursday, October 7, 2004

DESOLAÇÃO DA SEREIA



Sereia. As sereias. A palavra sereia.

Como se desmoronam

as palavras luminosas, portadoras

de germes de mito.

Escutou as sereias. Escuto uma sereia.

Apenas fica nas sílabas

um eco atroz de alarme

e o ruído da morte.



Será uma doença

mortal a da linguagem?



AURORA LUQUE





Wednesday, October 6, 2004





Depois da confidência

me retirei da tarde.

O céu ficou vazio



vazio



onde era vôo de pássaros

(os pássaros estavam quietos).

Uma febre roía meus ouvidos:

voltei mais velha (exilada)

com um toque de infância entre meus dedos,

reserva de sal dentro dos olhos.



Olga Savary





Tuesday, October 5, 2004



Quando Anoitece



Quando anoitece

contorno no meu rosto

o perfil do dia que passou

e tudo o que não sou

me contradiz.



Quando anoitece

atravesso um labirinto

caiado de paixão,

pretexto circular

da minha fé.



Quando anoitece

faço emergir do abismo

um instinto quase secreto

e fujo da noite,

em vertiginosa simetria com o vento,

como se fosse um equívoco

esperar a madrugada

com a mesma lentidão

de um acto íntimo.



Contra um muro branco

esta lonjura gémea do vento.



Uma casa ou um regaço

alternando a desordem

de corpos molhados

numa dicotomia simulada

quando o prazer

é o reflexo nítido

de um coágulo de azul

queimado sobre madrepérolas.



São corais que no fundo da água

não quebram as vagas silvestres.



Nasci agora

enquanto uma andorinha

baloiçava no espelho

atravessado de pólen.



Sou, sílaba por sílaba,

o luto ou a negação

de desumanos deuses.



Quando anoitece ...



Graça Pires





Monday, October 4, 2004





Procura-se o frio

Alguém me sabe dizer onde é que anda o Outono?

É tempo de castanhas e cachecois

E não se comem castanhas ou usam cachecois com este calor.







Dão-se alvíssaras a quem avisar o São Pedro ou quer que seja o controlar do tempo (será o senhor Anthimio?) que está na altura de baixar a temperatura



Sunday, October 3, 2004



I've been lost, found, confused, absolved, punished and rewarded.

(...)

I've talked and listened and heard and seen and been shown the way.

(...)

I've seen miracles happen and been

disappointed dozens of times.

I've been almost everywhere, met almost everyone, seen almost everything,

done almost all of it, and I'm still waiting to be discovered.

The night has a thousand eyes and I'm a gypsy dancer still hungry for more.





Bobby Miller