Tuesday, November 30, 2004



hoje a lebre está contente











Monday, November 29, 2004

As palavras

cintilam

na floresta do sono

e o seu rumor

de corças perseguidas

ágil e esquivo

como o vento

fala de amor

e solidão:

quem vos ferir

não fere em vão,

palavras



Carlos de Oliveira






Sunday, November 28, 2004

Música viciante do dia



November



So i'm waiting for this test to end

So these lighter days can soon begin

I'll be alone but maybe more carefree

Like a kite that floats so effortlessly

I was afraid to be alone

Now im scared thats how id like to be

All these faces none the same

How can there be so many personalities

So many lifeless empty hands

So many hearts in great demand

And now my sorrow seems so far away

Until i'm taken by these bolts of pain

But i turn them off and tuck them away

till these rainy days that make them stay

And then i'll cry so hard to these sad songs

And the words still ring, once here now gone

And they echo through my head everyday

And i dont think they'll ever go away

Just like thinking of your childhood home

But we cant go back we're on our own

Oh,

But i'm about to give this one more shot

And find it in myself

Ill find it in myself

So were speeding towards that time of year

To the day that marks you're not here

And i think i'll want to be alone

So please understand that i dont answer the phone

I'll just sit and stare at my deep blue walls

Until i can see nothing at all

Only particles some fast some slow

All my eyes can see is all i know

Ohh..

But i'm about to give this one more shot

And find it in myself

I'll find it in myself





azure ray






Thursday, November 25, 2004



É raro encontrar pessoas assim, mas de quando em onde surgem-nos delicias do nada



Nature Boy





There was a boy

A very strange enchanted boy

They say he wandered very far, very far

Over land and sea

A little shy and sad of eye

But very wise was he



And then one day

A magic day he passed my way

And while we spoke of many things

Fools and kings

This he said to me

"The greatest thing you'll ever learn

Is just to love and be loved in return"





Eden Ahbez











Wednesday, November 24, 2004



Ódios de estimação (musicais) da lebre



Há cantores e grupos que me provocam alergia nos tímpanos e me obrigam a mudar de rádio ou a guinchar mais alto que eles.

Aqui vai uma pequena amostra:



Categoria ladies guinchantes

Alanis Morrissete, Mariah Carey, Freddie Mercury, Ivete sangalo, Celine Dion, Shakira, Michael Bolton, Mafalda Veiga, Nuno Guerreiro, Andrea Bocelli



Categoria viródiscoetocómesmo

Trovante, Rui Veloso, Silence Four, Lighthouse Family, Dido, Polo Norte, Dianna Krall,



Categoria eu-sou-chato-e-não-canto-nada

Joao Pedro Pais, André Sardet, Pedro Abrunhosa, Paulo Gonzo, os moicanos dos

Quinta do Bill



(acho que me estou a esquecer de alguns nomes )







Tuesday, November 23, 2004



Nada do que amo me dá o que quero

por isso não amo

nem o amor

nem o sonho

nem a pintura

e os pintores

os heróis e o seu heroísmo,

nem estes meus poemas

copo de água fresca

que mais aumenta a sede.



Amo o que não amo

em todas estas coisas,

e indefinidamente

no fundo de tudo

amo a poesia e os poetas

que dão sempre mais

sempre muito mais

do que peço,

como tu,

mesmo eternamente ausente

meu amor.



Cruzeiro Seixas





Monday, November 22, 2004



A Íris nasceu:D:D:D:D

Parabéns mana linda e Heitor :D



Admirar os traços e os ver perfeitos

sem procurar reconhecer-se neles

e ser, enfim, guardião feroz dos sonhos

que animam aqueles olhos.



David Fernandes









Sunday, November 21, 2004



Deito fora as imagens.

Sem ti, para que me servem

as imagens?



Preciso habituar-me

a substituir-te

pelo vento,

que está em qualquer parte

e cuja direcção

é igualmente passageira

e verídica.



Preciso habituar-me ao eco dos teus passos

numa casa deserta,

ao trémulo vigor de todos os teus gestos

invisíveis,

à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve

a não ser eu.



Serei feliz sem as imagens.

As imagens não dão

felicidade a ninguém.



Era mais difícil perder-te,

e, no entanto, perdi-te.



Era mais difícil inventar-te,

e eu te inventei.



Posso passar sem as imagens

assim como posso

passar sem ti.



E hei-de ser feliz ainda que

isso não seja ser feliz.





Raúl de Carvalho







Thursday, November 18, 2004



atrás da minha janela há uma arvore

onde os pássaros marcam o tempo

na transparência do vento

sacodem-se as horas e por fim as imagens

evaporam-se nos contornos dos sonhos



entrego-me a um tempo concluído



faço tréguas com o passado fechando portas

ao silencio da noite

mas o sol insiste em fazer Outonos

mesmo quando os dias são mudos





eue







Wednesday, November 17, 2004



Olha, as coisas

Estão cortadas ao meio,

De um lado elas

Do outro o seu nome.



Há um vasto espaço entre elas,

Espaço para correr,

Para a vida.



Olha, tu estás cortado ao meio.

De um lado tu,

Do outro o teu nome.



Não sentes às vezes ou no sonho

Ou à margem do sonho,

Que na tua fronte

Assentam outros pensamentos,

Sobre as tuas mãos

Outras mãos?



Só por um instante foste compreendido

Fazendo o teu nome

Atravessar o teu corpo,

De um modo sonoro e doloroso,

Como o badalo de bronze

Através do vazio do sino.





Marin Sorescu



Tuesday, November 16, 2004



Podes substituir as palavras por esquecimento

Abafar as sombras que te acordam

Não dar nomes às coisas

Confundir pássaros com borboletas



E se calhar, no teu olhar, quando as noites

se escondem nas sombras

quando não tens tempo para ver a lua



afogas as vozes em papel seco

respiras as letras de um dialecto esquecido

onde as palavras não são faladas

e por toda a parte, lágrimas em vez de voz





eue







é muito bom ser amiga de uma papoila.

parabéns menina:)



Desejo uma fotografia

como esta — o senhor vê? — como esta:

em que para sempre me ria

como um vestido de eterna festa.

(...)



Cecília Meireles





Monday, November 15, 2004

Noite de Novembro



Ouçam...

com som seco e fraco

como passos de fantasmas que passam

as folhas, geadas, partem das arvores

e caem.



Adelaide Crapsey







Sunday, November 14, 2004



O bêbado deixa para trás as casas estupefactas.

Nem todos se aventuram a passear bêbados

à luz do sol. Atravessa tranquilo a rua,

e poderia entrar pelas paredes dentro, pois as paredes estão ali.

Só os cães deambulam assim, mas um cão pára

sempre que sente uma cadela e cheira-a cuidadosamente.

O bêbado não vê ninguém, nem mesmo as mulheres.



Na rua, as pessoas que se perturbam ao vê-lo, não se riem

e gostariam que não estivesse ali o bêbado, mas os muitos que tropeçam

ao segui-lo com os olhos voltam a olhar em frente

com uma praga. Passado que foi o bêbado,

toda a rua se move mais lentamente

à luz do sol. E se uma pessoa começa

a correr, é alguém que não o bêbado.

Os outros olham, sem distinguir, o céu e as casas

que nunca deixaram de estar ali, ainda que ninguém as veja.



O bêbado não vê as casas nem o céu,

mas sabe que estão ali, pois num passo pouco firme percorre um espaço

tão claro como as franjas do céu. As pessoas, embaraçadas,

deixam de compreender o que fazem ali as casas,

e as mulheres já não olham para os homens. Têm

todos, dir-se-ia, medo de que de repente a voz

rouca se ponha a cantar e os persiga pelo ar.



Cada casa tem uma porta, mas não vale a pena entrar.

O bêbado não canta, mas mete por uma rua

onde o único obstáculo é o ar. Felizmente

não vai dar ao mar, pois o bêbado,

caminhando tranquilo, entraria também no mar

e, deixando de se ver, prosseguiria no fundo o mesmo caminho.

Cá fora, a luz seria sempre a mesma.





cesare pavese







Thursday, November 11, 2004



A solidão era eterna

e o silêncio inacabável.

Detive-me com uma árvore

e ouvi falar as árvores.



Juan Ramón Jimenez







Wednesday, November 10, 2004



FABULOSO



Ela representa no filme uma personagem que temos na América e que existe, suponho eu, em França e em todo o lado, a que chamamos floating (vagabundo). Uma mulher que flutua à superfície da sociedade, ao sabor da corrente. Mas, na história deste filme, o homem que ela encontra precisa dela. Durante alguns dias ela tem uma direcção e, no fim, quando ele morre, ela regressa à sua errância. Ela compreendia a personagem muito bem, porque quando era nova, era um pouco assim. Disse-me uma vez uma coisa muito triste: "Preciso de um homem para me defender". Acho que a maioria das mulheres sabe o que isto é, mas não tem honestidade suficiente para o admitir. E ela dizia-o com tristeza.



ELIA KAZAN















Tuesday, November 9, 2004





Banho-me na luz calma duma gota

e lembro como fui educada:

Um lápis na minha mão,

a mão fresca da mãe na minha, tão quente.

E então escrevíamos

para dentro e para fora dos recifes de coral

um alfabeto submarino de curvas e de pontas,

de espirais de caracol, de tentáculos de estrelas-do-mar,

de braços esgrimindo de polvos,

de grutas arqueadas e de formações de rochas.

Letras que cintilaram e acharam o caminho,

vertiginosas por cima do branco.

Palavras como peixes achatados que se remexeram

e se enterraram na areia

ou anémonas-do-mar oscilantes, com centenas de fios

em movimento calmo, de uma assentada.

Frases como correntes de peixes

que ganharam barbatanas e se ergueram,

ganharam asas e se moveram, cheios de ritmo,

pulsando com o meu sangue que, suavemente,

opôs estrelas ao céu nocturno do coração.

Vi, naquele momento, que a sua mão havia largado a minha,

que a minha escrita me livrara há muito das suas garras.





Pia Tafdrup







Monday, November 8, 2004

mais uma tradução caseira



A fúria dos pores-do-sol



Algo

frio está no ar,

uma aura de gelo

e apatia

Todo o dia construí

uma vida inteira e agora

o sol afunda-se para

a desfazer.

O horizonte sangra

e chupa o seu polegar

o pequeno polegar vermelho

desaparece.

E eu interrogo-me sobre

esta vida inteira comigo,

este sonho que estou a viver.

E podia comer o céu

como uma maçã

mas prefiro

perguntar à primeira estrela:

porque estou aqui?

porque vivo nesta casa?

quem é o responsável?

hã?



Anne Sexton





Sunday, November 7, 2004



Venho desta forma solicitar ao leitor

uma cabeça de martelo

para que por caridade

me sejam arrancados das costas

todos os pregos que o tempo aí me pregou



Pregos para pendurar retratos

talvez de coisas tristes

talvez de coisas alegres



Peço-lhe que o faça com extrema delicadeza

de modo a que um dia

me seja possível coçar as costas

sem estar preocupado

com crostas ou cicatrizes



Venho pois caro leitor

pedir-lhe depurada mestria

ao arrancar-me todos os pregos

que a vida me pregou nas costas



Pregos veja-se bem

que têm servido tão-somente

para pendurar quadros

talvez de naturezas mortas

talvez de paisagens sem título



Não leve a mal o pedido

trata-se de caridade devida

ou não fosse também o caro leitor

um desses pregos

que o destino me pregou nas costas

com irrepreensível precisão



antoni tàpies









Friday, November 5, 2004

Retrato da lebre enquanto jovem





(momento narcisista do mês)



Thursday, November 4, 2004



Hoje apetecia-me ver este filme:D























Wednesday, November 3, 2004





Encosto a cara às quimeras da infância, para exorcizar

a inocência perdida e rodopiar, sobre os sonhos, a valsa

solitária da criança que fui, quando as minhas mãos, nativas

do sol, eram aves de múltiplas cores.

Paro todos os relógios, para escutar a respiração dos dias.

E, como um actor que se esgota na personagem, rasgo

o cenário e danço, como um louco, em redor de malogros

entrelaçados nos meus pulsos. Tenho, em volta do pescoço,

uma lua transparente que me enrouquece a voz.



Graça Pires





Tuesday, November 2, 2004



Sou apenas uma sombra

à tona da água do dia

Sou apenas a dor

E o queixume do mundo

Sou apenas espinhos

E gritos entre as ruínas

Sou apenas a ferida

Aberta deste tempo

Sou apenas

Uma flauta soprada pelo vento



Anne Perrier







Monday, November 1, 2004





Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido

Encubro a luz que me habita

Não por ser feia ou bonita

Mas por ter assim nascido

Sou de vidro escurecido

Mas por ter assim nascido

Não me atinjam não me toquem

Meus amigos sou de vidro



Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido

E um cinto de escuridão

Mas trago a transparência

Envolvida no que digo

Meus amigos sou de vidro

Por isso não me maltratem

Não me quebrem não me partam

Sou de vidro escurecido



Tenho fumo por vestido

Mas por assim ter nascido

Não por ser feia ou bonita

Envolvida no que digo

Encubro a luz que me habita





Lídia Jorge