Sunday, November 21, 2004



Deito fora as imagens.

Sem ti, para que me servem

as imagens?



Preciso habituar-me

a substituir-te

pelo vento,

que está em qualquer parte

e cuja direcção

é igualmente passageira

e verídica.



Preciso habituar-me ao eco dos teus passos

numa casa deserta,

ao trémulo vigor de todos os teus gestos

invisíveis,

à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve

a não ser eu.



Serei feliz sem as imagens.

As imagens não dão

felicidade a ninguém.



Era mais difícil perder-te,

e, no entanto, perdi-te.



Era mais difícil inventar-te,

e eu te inventei.



Posso passar sem as imagens

assim como posso

passar sem ti.



E hei-de ser feliz ainda que

isso não seja ser feliz.





Raúl de Carvalho







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