Thursday, January 6, 2005



A casa do mundo



Aquilo que às vezes parece



um sinal no rosto

é a casa do mundo

é um armário poderoso

com tecidos sanguíneos guardados

e a sua tribo de portas sensíveis.



Cheira a teias eróticas. Arca delirante

arca sobre o cheiro a mar de amar.



Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.

O corredor lembra uma corda suspensa entre

os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.

Janelas que cheiram ao ar de fora

à núpcia do ar com a casa ardente.



Luzindo cheguei à porta.

interrompo os objetos de família, atiro-lhes

a porta

Acendo os interruptores, acendo a interrupção,

as novas paisagens têm cabeça, a luz

é uma pintura clara, mais claramente me lembro:

uma porta, um armário, aquela casa.



Um espelho verde de face oval

é que parece uma lata de conservas dilatada

com um tubarão a revirar-se no estômago

no fígado, nos rins, nos tecidos sangúíneos.

É a casa do mundo:

desaparece em seguida



Luiza Neto Jorge







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