Tuesday, July 5, 2005

xli. [fim de amor]

tiveste um nome e era o meu

porque partiste tão cedo
palavra tão palavra
que para designar-te nada
nenhum deus te era linguagem
nenhum silêncio te gritava
e o meu corpo não chegava
para a vida me caber inteira

porque partiste ácida e vazia
como veneno como sangue
porque partiste como água
morta que só não corre mais
e o que fazer deste mundo
que assenta no morto que sou eu

tiveste o nome e eu era-o

como a natureza chama o seu contrário
os pulsos do ruído surdo
rasgam as paredes do tempo
digo o meu nome dentro da cabeça
e nem o eco me pertence

tive o teu nome e era o meu

partiste todas as palavras
partiste em todas as palavras
e os verbos nascem mortos na garganta
as palavras não dizem as palavras
e as palavras pensamentos sem corpo
agarram um horizonte negro
improferivelmente eu

já tive um nome
agora sou apenas eu

pedro sena-lino



Image hosted by Photobucket.com

No comments: