Wednesday, May 31, 2006

If writings did not exist, what terrible depressions we should suffer.

When God made the first clay model of a human being. He painted in the eyes,and the lips,and the sex. And then He painted in each person's name lests the person should ever forget it.
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If God approved his creation,
He breathed the painted clay-model into life
by signing His own name.



I need writing. Don't ask why. Just take out your pen and write on my arm.
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Go on. Use my body like the pages of a book. Of your book.
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Guesh Patti - Blonde

lebre em modo muito Pillow Book

Tuesday, May 30, 2006

a lebre em modo trapezista sem rede


Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em altorisco),
e a dança no trapézio proibido,
sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.

Ana Luísa Amaral


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Monday, May 29, 2006

Linguagem figurada

Se eu fosse árvore crescia-
-te numa mão cheia
se fosses o mar fazia-
-te castelos brancos na areia.

Se fosses flor arrancava-
-te com raiz e tudo
se eu fosse fogo fazia-
-te a casa em cinzas-veludo.

Se eu fosse ninfa sugava-
-te para o fundo do mar
se fosses estrela dava-
-te um tiro para caíres do ar.


ulla hahn

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Friday, May 26, 2006

people are strange

People are strange when you're a stranger
Faces look ugly when you're alone
Women seem wicked when you're unwanted
Streets are uneven when you're down

When you're strange
Faces come out of the rain
When you're strange
No one remembers your name
When you're strange
When you're strange
When you're strange

People are strange when you're a stranger
Faces look ugly when you're alone
Women seem wicked when you're unwanted
Streets are uneven when you're down

When you're strange
Faces come out of the rain
When you're strange
No one remembers your name
When you're strange
When you're strange
When you're strange

When you're strange
Faces come out of the rain
When you're strange
No one remembers your name
When you're strange
When you're strange
When you're strange

doors

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stina nordenstam

Thursday, May 25, 2006

Suavemente o prado embala-me na sua relva
Estou só deitada
Penso em ti
e devia estar entristada

espelho-me no azul alto do céu
nos teus olhos não
De vez em quando procuro ainda
nas nuvens a tua expressão

que o vento me desfaz: esquiços incertos
que posso ir esbatendo
Penso em ti e paro uma vez mais
o esquecimento.


Ulla Hahn

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Dúvidas apócrifas de Marianne Moore


Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?

Não haverá nesse pudor
de falar-me uma confissão,
uma indireta confissão,
pelo avesso, e sempre impudor?

A coisa de que se falar
até onde está pura ou impura?
Ou sempre se impõe, mesmo impura-
mente, a quem dela quer falar?

Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?


João Cabral de Melo Neto


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Tuesday, May 23, 2006

quando se mistura insónia com reconhecimento o resultado só pode ser este


MULHERES


Desciam da cruz
Como aves de negro.
As asas abertas
Batiam soturnas
Na cinza de névoa
Das sombras nocturnas
E ousavam mistérios
De deuses secretos.

Mulheres ou bonecas.
Crianças ou velhas.
No barro das telhas
A chuva caía.
Caíam as folhas
Doiradas e secas.
Mulheres ou bonecas
Desciam da cruz
Na noite vazia.

Repetem-se os gritos
Represos mil anos.
Ecoam suspiros.
Ninguém sabe o rosto
Aos deuses tiranos:
Formigas, bonecas
De vozes tão roucas
Correndo, sofrendo,
Voando, voando.

Baloiçam-se negras
De véus e de Dores.
Nas asas de aviões
Que cortam as cores
Pregadas na cruz
- Infâncias que foram
De fadas e flores.


Natércia Freire


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Monday, May 22, 2006

um dia a noite há-de dizer-te
como o amor escrevia no meu corpo

lá fora o meu desejo assassina o mundo
a noite não existe porque a deixaste
no movimento de pedra dos meus braços

daqui onde estou quem te era
não se vê nada do amor

Pedro Sena-Lino


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a lebre está gonstibada. cof, cof!!!

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Friday, May 19, 2006

Esquece tudo o que te disse/Leva as promessas que fiz/Manter este amor é pura tolice/O teu coração nunca o quis/O nosso amor não tem futuro/Já não o queres na velhice

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hoje na fnac cá de Coimbra

Thursday, May 18, 2006

São os olhos que aproximam os lugares ao coração.
Agora que regressamos é nisto que penso
enquanto fazemos sinais uns para os outros com as luzes
dos carros, na rápida estrada, ao anoitecer.
Olha-se devagar para a vida e sobretudo assim
damos conta dos silêncios,
dos nomes devolvidos ao tão breve silêncio.
A casa vincada pela névoa, a
aldeia imobilizada ao passearmos em grupos,
o café que me conforta quando o recebo entre as mãos.
Como dizer que são estas as mais secretas regiões da alma
a que voltamos sempre
nos maiores frios de Dezembro?
Se de repente dizem que estamos a uma eternidade
frágil dos dias inquietos,
cruzas uma palma da mão sobre a outra e olhas para as
unhas, rindo de quando em vez para mim, que fico tão feliz.
E no regresso, quando os sobressaltos se repetem
e anoitece nas estradas vazias e o mundo adormece,
há uma solidão que estremece as bermas e nos aflige debaixo da
língua, como uma chuva miudinha.
Como falar depois da tua inclinada cara a meu lado
e do recanto mais longínquo dos pinhais?
Como acreditar que o tempo não trará aos olhos a maior
solidão
em que ficamos ?

Rui Coias

Wednesday, May 17, 2006

Sou constantemente assaltado por memórias de sítios onde vivi, as casas e os bairros. Por exemplo, há um prédio vermelho de arenito, nos East Seventies, onde, no princípio da guerra, aluguei o meu primeiro apartamento em Nova Iorque. Era uma assoalhada atravancada de mobílias de sótão, um sofá e grandes cadeiras estofadas daquele veludo vermelho desbotado tão característico, que geralmente se associa aos dias de calor dentro de um comboio. As paredes eram de estuque, de uma cor de seiva de tabaco. Por toda a parte, até na casa de banho, havia gravuras de ruínas romanas acastanhadas pelo tempo. A única janela dava para uma escada de incêndio. Mesmo assim, ficava bastante eufórico quando sentia no bolso a chave para aquele apartamento tão esconso e sombrio; não deixava de ser um sítio meu, o primeiro, e tinha lá os meus livros e colecções de lápis por afiar, tudo o que precisava, julgava eu, para me tornar o escritor que queria ser.

Truman Capote


Tuesday, May 16, 2006

a jukebox da lebre (canção perfeita versão 1.6)

Fade into you

I want to hold the hand inside you
I want to take a breath that's true
I look to you and I see nothing
I look to you to see the truth
You live your life
You go in shadows
You'll come apart and you'll go black
Some kind of night into your darkness
Colors your eyes with what's not there.

Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew

A stranger's light comes on slowly
A stranger's heart without a home
You put your hands into your head
And then smiles cover your heart

Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew

Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew
I think it's strange you never knew

Mazzy Star

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lebre deslumbrada com o site da menina das palavras e das fotografias


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Monday, May 15, 2006

tradução caseira da lebre


um olhar desde o esgoto
pode ser uma visão do mundo

a revolta consiste em olhar uma rosa
até pulverizar os olhos


Alejandra Pizarnik


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Friday, May 12, 2006

When it's time to do the cha-cha-cha, ain't no crime to do the cha-cha-cha; and if I'm to do the cha-cha-cha, I may cha-cha-cha without warning. Close your lips and do the cha-cha-cha. Shake your hips and do the cha-cha-cha. Do some flips and do the cha-cha-cha. We can cha-cha-cha till the morning... If you ever do the cha-cha-cha, you'll forever do the cha-cha-cha; if you never do the cha-cha-cha, you'll have lived without really dancing. It may be you do the cha-cha-cha. Like to see you do the cha-cha-cha. Stick with me and do the cha-cha-cha: it's the only thing for romancing...

Stephin Merrit

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Thursday, May 11, 2006

o dia envolve-se de borboletas como uma imensa gargalhada
são marcas de água na realidade onde os olhos se afundam

eu não disse”as borboletas entre os dias e os murmúrios
desenham afirmações a falsear as sombras”

o mundo suspenso numa tarde de verão

dizer que a luz é azul é falar de céu
e com o tempo todo nas pausas
o branco é o novo cheiro das palavras

e no papel gatafunho borboletas como
modelos impessoais de destroços

Maria

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Wednesday, May 10, 2006

Preciso aqui de uma árvore. Uma árvore que dê sombra e ternura - uma velha árvore carcomida. Nunca pude passar sem essa sombra inocente. Meio morto de cansaço e de mentira deito-me ao pé dela e renasço. Todos a aproveitam - para o lume - para traves - para o caixão.

Raul Brandão

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Tuesday, May 9, 2006

nas horas em que as mãos insistem em ter frio
está no meio da casa
com os dedos a recortar o ar
o calor por vezes não passa de um cigarro perdido no vazio

é sempre tarde para conhecer todas as palavras que abandonam a pele

nada habita o que só a mulher repete
talvez o tempo seja este espaço a
esfregar os olhos

quando as palavras contornam as sombras
fechar os olhos ao deixado para trás

apetece-lhe dizer: estou aqui
a tentar brincar com fósforos
a retirar saudade do que da chama queima

sem me queimar


Maria

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Monday, May 8, 2006

Não lhe parece estranho que certas memórias de infância estejam assim coalhadas em luz, encapsuladas como aquelas esferas de vidro que ao virar-se cintilam de neve ou de partículas doiradas sobre uma paisagem em miniatura? Podia ser o Escorial, a Torre de Londres, os Montes Apalaches. Um par que dança de pernas para o ar na concha da mão cheia de vidro grosso, dentro do qual paira depois, em descida mansa, uma poalha de estrelas cadentes. Pode ser o Taj Mahal, feito para alumbrar porque navega nos ares à hora da bruma arfante do calor. Isso eu vi. Ou talvez estivesse marejada de choro. Jazigo raro, onde quem sabe só restam que résteas de ossos.
Está-se lá dentro, nas esferas vivas, sem saber para onde se ia, nem de onde se vinha. Para sempre, o que não é exagero nenhum, enquanto a memória veja. Mas suponho que são estas bagas translúcidas que atravessam de sorrisos o cochilar dos velhos e dos meninos que hão-de voltar a ser. Se voltarem. Ele há tanto sítio e lugar e ser de que se está tão certo e seguro em sonhos, que é bem possível que para lá se vá ou de lá se venha. A alma é imortal mas não nos é dado saber aonde se demora.


Maria Velho da Costa


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Sunday, May 7, 2006

Pergunto-me se Shakespeare pensava a mesma coisa – disse eu – quando escreveu: “o mundo inteiro é um teatro”?
O velhote suspirou
- É realmente um teatro, conforme o modo como o consideremos. A vida é realmente um drama; um drama sem muitas chamadas à cena e sem aplausos no fim! -acrescentou sonhadoramente - Passamos metade da nossa vida a lastimar as coisas que fizemos na outra metade!
- E o segredo para usufruí-las - continuou, retomando o tom alegre - é a intensidade.


Lewis Carroll


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Thursday, May 4, 2006

A menina dança?

Que se há-de dizer, quando um homem nos pede para dançar? Isso é que eu não vou, havemos de nos encontrar no inferno primeiro. Ora essa, muito obrigada, gostaria imenso, mas estou com as dores do parto. Oh, sim, dancemos juntos - é tão bom encontrar um homem que não tem medo de ser contagiado pelo meu tifo. Não. Não havia nada a fazer senão dizer: gosto imenso. Bem, vamos lá acabar com isto. Está bem, Cannonball, corramos por esses campos fora. Ganhaste a partida; guia tu.











Ui! Pelo amor de Deus, seu idiota, não dê pontapés. Ai, a minha canela, a minha pobre, pobre canela que sempre tive desde pequenina.








Quando te derem uma canelada, sorri.


Dorothy Parker


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a menina dança - Dead Combo

Wednesday, May 3, 2006

tradução caseira da lebre


Há ferrugem na minha boca
a nódoa de um beijo antigo.
E os meus olhos estão a ficar vermelhos,
a minha boca é cola
e as minhas mãos são duas pedras
e o coração,
ainda lá está,
aquele lugar onde o amor morou
mas está pregado no sítio.
Mas eu não tenho pena por estas extravagancias,
de facto o sentimento é de ódio.
Porque é apenas a criança em mim a irromper
e eu continuo a conspirar em como a matar.

Outrora havia uma mulher,
cheia como um teatro da lua
e o amor gerou amor
e a criança quando espreitou,
não se odiava nessa altura.
Estranho, estranho, o que tu fazes amor.
Mas hoje eu vagueio numa casa morta,
uma cozinha congelada, um quarto
como uma câmara de gás.
A cama é uma mesa de operações
onde os meus sonhos me cortam em pedaços.

Ó amor,
o terror,
a peruca do terror,
que a tua querida e encaracolada cabeça
era, era, era, era.

Anne Sexton


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Tuesday, May 2, 2006

Lá em cima há planícies sem fim
Há estrelas que parecem correr
Há o Sol e o dia a nascer
E nós aqui sem parar numa Terra a girar

Lá em cima há um céu de cetim
Há cometas, há planetas sem fim
Galileu teve um sonho assim
Há uma nave no espaço a subir passo a passo

Lá em cima pode ser o futuro
Alegria, vamos saltar o Mundo
E a rir, unidos num abraço
Vamos contar uma história
Era uma vez o Espaço

Lá em cima já não há sentinelas
Sinfonia toda feita de estrelas
Uma casa sem portas nem janelas
É estenderes o braço e tu estás no Espaço!

Paulo de Carvalho

NGC1275_FC.jpg

Monday, May 1, 2006

Escreves-me cartas, sou o destinatário
da tua solidão. E sempre compreendo
tudo, mesmo o que não dizes, o que tinge
as entrelinhas de um branco desespero

que é tanto teu como meu: não tens
quem te salve, envelheceste, trataste mal
de um jardim que não chegou a vingar.
Se nos cruzássemos nas ruas desta cidade

entre desconhecidos de toda a sorte, talvez
nos sentássemos a falar da nossa vida, isto é,
de como vamos ficando cada vez mais orfãos
de nós próprios. Ou, pensando bem, talvez não.


Rui Pires Cabral

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