Tuesday, April 29, 2008

como se tudo em mim fosse
um parágrafo do tamanho da noite

não me transformo em sono
e a memória é palpável

da insónia resta um lento
nascimento de olhos abertos




maria sousa



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Monday, April 28, 2008

À entrada da (…) alma um letreiro exausto batia: vende-se, aluga-se, oferece-se.




João Luís Barreto Guimarães




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Sunday, April 27, 2008

cintura

Deixo-te ir, dizendo palavras inabitadas, tenebrosas. Sou caruma, vento violento, borboleta esvaziada pela malignidade. Procuro, em minha perplexidade de asa, um outro coração. Na avidez do golpe, caminho com água pela cintura. Desapareço.



Ana Marques Gastão



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Friday, April 25, 2008

25 de Abril, Sempre!






Thursday, April 24, 2008

Também ainda não disseste

(e é bom que o faças

antes que anoiteça)

que foi ao serviço

duma causa

que vieste. Não lhe dirás

o nome, nem é preciso,

julgo eu. Basta que se saiba

que foi com o sangue

que sempre o escreveste. E bastará,

por isso, que leiam

os teus versos. Porque

em todos eles

está escrito a vermelho.








Albano Martins

Wednesday, April 23, 2008

entre a saliva e os sonhos há sempre
uma ferida de que não conseguimos
regressar

e uma noite a vida
começa a doer muito
e os espelhos donde as almas partiram
agarram-nos pelos ombros e murmuram
como são terríveis os olhos do amor
quando acordam vazios




Alice Vieira



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Tuesday, April 22, 2008

Onde está a madrugada está a revelação de um vidro interior.
Então tu fechas e abres os olhos. Então tu pensas: os dedos
como flores carnívoras.



Vasco Gato



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quem foi a besta quadrada que fez isto?

(sim,quando fazem mal a pessoas que eu adoro, salta-me a tampa)

Monday, April 21, 2008

tradução caseira da lebre


eu uno-me ao silêncio
eu uni-me ao silêncio
e eu deixo-me fazer
deixo-me beber
deixo-me dizer




Alejandra Pizarnik




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obrigada martinha

Sunday, April 20, 2008

Let Go
let go slow down you’re holding fast.let go move on you’re holding still

Wednesday, April 16, 2008

Conta-me um conto


É tarde, falta aprender a deitar fora a madeira da alma,
a não contaminar os animais com o vírus
das metáforas sombrias. Falta talvez ser tarde,
mas o homem expulsou-se do paraíso
e cresceram-lhe orelhas para escutar a morte.
Como pode olhar de frente o rosto da criança,
com que sol se senta ao sol das maravilhas?
Fala comigo um pouco mais. Ainda há passos
que não demos, há trilhos que os ciganos deixaram
para nós, há migalhas de pão pelos caminhos
e talvez seja a hora de fazer com elas umas migas,
de pedir ao mágico que tire do chapéu um vinho
graduado, um coronel meio surdo a quem Alice
perguntará as horas ou o capuchinho chamará «avó».
Antes de sermos definitivamente comidos pelo lobo
escuta como se aproxima o próximo poema.



Rosa Alice Branco



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Tuesday, April 15, 2008

Só a ti fiquei fiel
tanto, até quando?
E todavia não és o meu centro talvez o meu canto:
uma das rugas do rosto quando o mostro
uma das linhas da palma quando a estendo
entre o doce e o amargo o travo
entre o que sou e o que devenho o traço
de união



Teresa Balté



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Monday, April 14, 2008

tradução caseira da lebre


(...)
Sou rainha de todos os meus
pecados esquecidos. Ainda estou perdida?
Em tempos fui bonita. Agora sou eu própria



Anne Sexton



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Saturday, April 12, 2008

Marie floating over the backyardPhotobucket

Thursday, April 10, 2008

ela tem medo de não saber nomear o que não existe



alejandra pizarnik



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Wednesday, April 9, 2008

O passado não tem sítio, a única vantagem do passado é não existir em lado algum.



Dulce Maria Cardoso



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Tuesday, April 8, 2008

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Monday, April 7, 2008

Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.



Adélia Prado



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Sunday, April 6, 2008

traduçao caseira da lebre

ERA UMA VEZ

Contam que a bela adormecida
nunca acordou do seu sonho.




Leopoldo María Panero



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Friday, April 4, 2008

Pick up the phone and answer me at last.Photobucket


Today I will step out of your past.

Thursday, April 3, 2008

Tudo desde sempre.Nunca outra coisa.Nunca ter tentado.Nunca ter falhado.Não importa.Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.


Samuel Beckett



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Wednesday, April 2, 2008

Opressão


O meu coração está carregado, carregado.

Vou até à varanda, os meus dedos afagam
a pele tensa da noite.
As luzes da comunicação apagaram-se,
as luzes da comunicação apagaram-se.

Ninguém me levará ao sol
ou me apresentará o carnaval dos pardais.


Relembra o voo:
o pássaro em si é mortal.




Forugh Farrokhzad



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Tuesday, April 1, 2008

tradução caseira da lebre


ser sonhadora na sua camisa azul
que ama a terra estranha
ou atrever-me como a naufraga
que volta ao mar
porque ninguém se alegra
com a sua salvação



Alejandra Pizarnik



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O primeiro número da revista literária Criatura já está impresso.


Participam no primeiro número os seguintes autores:

Ana Aleixo Lopes
Ana M. P. Antunes
António Ramos Pereira
Beatriz Hierro Lopes
Cláudia Santos Silva
David Teles Pereira
Diogo Vaz Pinto
José Carlos Barros
Maria Sousa
Marta Caldeira
Marta Chaves
Nuno Araújo
Rita Branco Jardim
Sara F. Costa
Susana Almeida